domingo, agosto 21, 2011

Prós e contras da cirurgia bariátrica


Existem hoje no Brasil cerca de um milhão de obesos mórbidos, e reduzir o estômago pode ser a única opção para quem luta há anos ou mesmo décadas contra o excesso de peso. Chamada de cirurgia bariátrica, a intervenção é feita de várias formas, mas todas têm o mesmo resultado: a perda de até 60% do peso corporal. Mas, embora pareça uma solução milagrosa para quem sempre sofreu com a obesidade, ela é uma cirurgia como outra qualquer, que envolve vários riscos durante e depois da intervenção.
O comerciário Luiz Felipe da Silva Neves, de 36, lutou a vida inteira contra o excesso de peso. Seguiu as mais variadas dietas com acompanhamento médico e tomou remédios para emagrecer, mas os resultados nunca chegaram nem perto de serem satisfatórios. Há três anos, depois de cinco de espera, Luiz reduziu o estômago no Hospital Ipanema, um dos centros médicos do país que oferecem a cirurgia gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
- Minha vida mudou completamente. Antes não pensava no futuro e não tinha prazer em fazer nada. Hoje, faço coisas que nunca imaginei. Estou noivo e vou casar em janeiro, vou à praia, faço caminhadas e até já fui acampar. É como se eu tivesse outra vida - diz Luiz, que emagreceu 103 quilos desde que foi operado.
O médico Antônio Augusto Peixoto de Souza, coordenador do programa de cirurgia bariátrica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, lembra que a cirurgia não é para qualquer um:
- A cirurgia bariátrica não é, de forma alguma, uma cirurgia estética. Ela é indicada para a obesidade, que é uma doença, e para o combate aos distúrbios associados a ela, como diabetes, doenças cardiovasculares, de circulação e hipertensão - explica o médico.
Riscos existem, mas benefícios ainda superam complicações
A endocrinologista Cristiane Moulin, do Ambulatório de Cirurgia Bariátrica do Hospital das Clínicas de São Paulo, acredita que os benefícios da cirurgia são bem maiores do que os eventuais problemas, como a deficiência nutricional, a perda de cálcio nos ossos e as dificuldades de adaptação ao novo corpo. Mas ela é contra a banalização do procedimento:
- Muitas vezes, o obeso vem procurar a cirurgia com uma motivação estética, e isso atrapalha. A obesidade não tem cura, tem tratamento. A cirurgia é apenas uma parte. O ex-obeso vai precisar de acompanhamento médico por toda a vida - explica.
Os cuidados no pré-operatório são extensos. São, no mínimo , dois meses de exames físicos, consultas com diferentes especialistas, análises psicológicas e participação em grupos de apoio (Clique aqui para conhecer o Grupo de Recuperação à Auto-Estima e Cidadania do Obeso) . Tudo para que a pessoa entenda os riscos do procedimento e, o mais importante, o quanto a vida vai mudar depois da cirurgia.
- Esse processo foi muito importante para mim, especialmente as reuniões do grupo de apoio. Acho que por isso é que minha transição foi fácil. Conheço muitas pessoas que tiveram problemas graves, inclusive depressão, porque não estavam preparadas para operar - diz Luiz.
Transtornos psiquiátricos devem ser tratados antes da cirurgia
Cristiane Moulin enfatiza que, na maioria dos casos de depressão e suicídio pós-cirúrgico, os pacientes já tinham um quadro de alteração psiquiátrica.
- É por isso que a avaliação psicológica e o acompanhamento médico são tão importantes. Problemas como a depressão raramente são causados pela cirurgia, mas a operação pode ampliar sintomas de condições já existentes. Costumo perguntar para meus pacientes se eles estão felizes, se recomendariam a cirurgia e se fariam de novo. A resposta é, na maioria esmagadora das vezes, positiva. Apenas uma mulher, em todos meus anos como médica, disse que se arrependeu da cirurgia - explica Cristiane.
A Organização Mundial de Saúde estima que, a cada ano, 300 mil pessoas morram em decorrência de complicações causadas pela obesidade. Nem todo obeso pode passar pela cirurgia. Quem se submete ao procedimento precisa estar dentro de certos parâmetros de índice de massa corporal (aprenda a calcular seu índice aqui).
Há também os obesos que são operados por profissionais pouco qualificados e precisam, anos depois, passar por outra cirurgia para consertar problemas causados pela primeira. O cirurgião Nilton Kawahara, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), diz que quase 70% dos pacientes operados que não seguem as orientações médicas à risca voltam a ganhar peso:
- De todos os pacientes que nos procuram, 50% deles são para re-operações, na maioria mulheres, que foram submetidos a técnicas incorretas e atualmente voltaram a ser obesos mórbidos. Destes, 25% foram submetidos a métodos inadequados e o restante não seguiu as orientações de dieta, atividade física e apoio psicológico da equipe multidisciplinar - alerta.

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